domingo, 17 de fevereiro de 2013

Cena de xadrez


            Tamborilou com a ponta dos dedos na mesa. Grunhiu algo como se falasse de si para si os lances que lhe apareciam às vistas. Fez o movimento, enquanto levava a outra mão ao queixo.
            O outro, não obstante o falatório e a pirraça do primeiro, não perdia o foco e tentava o mais possível manter-se concentrado. Olhou por cima dos óculos para o adversário e sentiu um leve aborrecimento. Via um sujeito baixo e gorducho, vestindo um calção e uma camiseta simples, de óculos, barba e uma grenha farta, com um pequeno rabo de cavalo na nuca.
            Duas jogadas e o primeiro alarga a vantagem, com um leve sorriso lhe assomando à face e sem deixar de fazer um comentário ou dois. Deixando o outro ainda mais inflamado. Este, porém, à medida que o enfado crescia, crescia também a sua força de vontade em não deixar transparecer num involuntário movimento corporal ou no semblante, o que realmente lhe passava no íntimo.
            Algumas jogadas à frente, com a vitória quase certa para o primeiro. O outro, que já se fartara dos apontamentos, das risadas estridentes e do próprio companheiro, comentou numa dessas, que estava com o jogo perdido.
            “E agora é que está perdido?!” repontou o primeiro com sarcasmo.
            A essas palavras, o outro quis morder-se de raiva, mas à medida, conteve-se e focando-se no jogo, lembrou-se de que estava acabado e percebendo que podia valer-se disto para sair dali, derrubou o rei e agradeceu a partida, sem apertos de mãos nem contato visual. Levantou-se, buscou um copo d’água e em silêncio retirou-se para ruminar tudo.

sábado, 19 de janeiro de 2013

Primeiro ensaio sobre a leitura

            Se agora eu tanto leio, é sim para ampliar meu vocabulário de conceitos; termos; gramáticas; os horizontes de minha capacidade imaginativa e sua distinção; para conhecer mais dos tipos humanos, de seus propósitos, e das experiências e sensações próprias da vida humana; para saber melhor quem sou e quem posso ser; é para ter maior número de experiências para melhor lidar e colocar-me em posição que melhor me provir nas diferentes situações, pelas quais, todo ser humano passa; é, de certa forma, também para evitar as lástimas; para um maior e melhor juízo; e é também para elevar o espírito do vulgo em que permanece a carne, para dizer, ao final, que faria tudo novamente, para saber que não fui apenas uma alma e uma história, mas tantas quantas os anos e a saúde permitirem.

sábado, 3 de novembro de 2012


Sentimento
Não sei se desdenho ou acalento
Me tira o sossego
Me faz coçar, me eriça o pêlo
Ah! Desapego

domingo, 3 de julho de 2011

Trecho de um diálogo sobre Perfeição |

"Eu acho que nunca chegamos numa perfeição (se vc tomar perfeição como um ponto final), estamos sempre buscando melhorar ou aperfeiçoar, enfim, mas creio que não exista um ponto final que seja possível de alcançarmos, acredito que o ponto limite somos nós mesmo, quando paramos de buscar melhorar, ou quando nosso corpo chega ao fim da vida, e dai pra frente não há mais como saber.. eu vi num documentário sobre aquele cara que escreveu 'As veias abertas da América Latina', ele falar de uma frase que era atribuida a ele, mas que na verdade era de um amigo dele, que dizia mais ou menos assim: 'As utopias, são como o horizonte, vc olha para o horizonte e vai em sua direção, mas vc nunca vai chegar nele, da mesma forma as utopias, assim como o horizonte, servem para nos fazer caminhar.'.. era algo assim, acho que a perfeição pode se encaixar ai também, pois buscando sempre a perfeição, você caminha com o que quer que seja que esteja buscando, seja na arte, na culinaria, no esporte, enfim, qualquer coisa."

Domingo, 16:26, 3 de julho de 2011.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Indagação Incerta |

Vejo cada vez menos sentido nessa vida que me rodeia, e na qual estou imerso. Não existe verdade, não existe certo ou errado, bom ou mal. Qualquer interpretação e visão do todo, será falha, será parcial, será etnocêntrica. Então qual o sentido de trabalhar, de gastar tempo e energia em estudos e trabalhos? Vejo duas hipóteses, a dos prazeres e das necessidades.

Os prazeres são tudo aquilo que fazemos em busca ou em favor dos nossos prazeres, ou daquilo que irá nos propiciar novos ou velhos prazeres, mas que não são necessidades básicas, ou talvez o sejam como prazeres, tendo em vista que os prazeres sejam uma necessidade, nesse caso. Já as necessidades são aquilo que fazemos por razão das necessidades básicas: como o alimento, o afeto, a segurança, e tudo o que se encaixar como necessidade.

Mas a vida se restringe a isso? Seria a vida, a eterna busca por suprir as nossas necessidades e prazeres?

Prefiro acreditar que não. Uma vez que usamos apenas 10% de nossa capacidade cerebral, como aceitar que somos apenas uma busca incessante de suprir necessidades e prazeres? Não posso. Posso aceitar que na atual conjuntura nossas vidas se baseiem nisso. Mas não que seja isso e fim.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Anônimas paixões |

Minhas paixões são anônimas;
São secretas declarações de amor;
Emudecidas nos meus olhos;

São como amores de verão;
Que vêm e que vão;
Mas ficam-se as palavras;

Transcritas em folhas velhas;
Falhas imagens do âmago;
Carregadas e vazias são;

Mas de cidade em cidade;
Passam-se rodoviárias e paradas;
E com elas vão-se amores;

Há mim só restam escritos;
Poemas e versos deixados;
Às minhas anônimas paixões;

domingo, 13 de março de 2011

E quem poderia? |

Se das neves há a mais clara
Se das flores há a mais bela.
Se das pedras há a mais rara.

Então do tempo há de haver um mais Ás.

O futuro é deles o mais belo, mas é distante ainda.
O passado é grandioso, mas já se foi e não volta.
Mas o presente, – Ah – o presente é diferente!

Ele é cheio de vida!
É feito de instantes, de lapsos!
É tão rápido que só podemos falar dele no passado.
É belo, grande e cheio de incertezas!

Por isso proclamo o presente para o mais dos tempos.

Bom, vejamos.

Se dentre as neves há mais clara.
Se dentre as flores há a mais bela.
Se dentre as pedras há a mais rara.
E se dentre os tempos há o mais dos tempos.

Então, quem arriscaria a existência dos mais justos?
Quem poderia quanto aos mais dignos?
Ou ainda aos mais puros?

Poderia?...

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Uma longa história |

- Não entendo... Não consigo compreender porque eles continuam a fazer isso. – o jovem estava mais confuso do que jamais estivera antes.

- É complicado sabe, mas ao mesmo tempo simples. – disse o velho ancião, sem sair nem um centímetro de sua posição de meditação.

- Não ajudou muito...

- É complicado, pois é uma longa história e muitas coisas acontecem em longas histórias. Mas é simples, como um grande quadro, que visto de bem perto não se entende os traços e pontos, mas ao se distanciar o bastante você compreende toda a imagem.

- Acho que entendi, mas me explique melhor os traços e pontos dessa imagem...

- Pois bem, vamos começar então... Sabe, em algum lugar lá atrás, bem lá atrás, nós nos perdemos. Acredito que alguns de nós descobriram que podiam manipular os outros para fazerem aquilo que desejassem e que não queriam fazer eles mesmos. Talvez isso tenha começado quando os primeiros de nós descobriram que podiam usar o medo para controlar determinadas ações de seus companheiros. Como por exemplo, incitar o medo em crianças para que não façam determinadas coisas, ou para que façam outras, como ir dormir cedo, não fazer maldade, e etc. Até o ponto em que começaram a usar o medo e a força para controlar totalmente outros indivíduos. Para isso faziam-se diferentes justificativas, como o local de nascimento, a origem familiar, a posição social, a cor da pele, e etc. E elas mudavam de tempos em tempos. Basicamente, quando se fazia necessária uma razão ou explicação para continuar a exercer tal controle, uma nova justificativa era criada... Isso foi o começo, mas com o desenvolvimento vieram também novas justificativas e meios de exercer o controle sobre determinados grupos. Até que aqueles que detinham o poder e exerciam o controle, perceberam que jamais poderiam continuar com seus atos enquanto existissem aqueles que os questionassem. Então eles logo trataram de eliminar qualquer possibilidade, e assim se deu início a “Guerra do Mal”, como foi conhecida...

- E porque ela tinha esse nome? – cortou-lhe o rapaz, ávido pela história.

- Porque aqueles que foram alvos da guerra, ou seja, aqueles que questionassem ou que pudessem questionar eram chamados de “Soldados do Mal”, de “Semeadores do Caos”, e outros nomes, todos criados pelos servidores da elite controladora, para justificar a opressão e a perseguição contra eles. Dessa forma, aqueles que tinham consciência de todo o sistema de controle e como ele funcionava, se tornaram alvos e foram caçados, presos e executados... – concluiu o velho, com o olhar fixo no horizonte. Parecia distante e cansado, como se estivesse carregando um enorme e pesado fardo. Sim, estava com uma aparência bem diferente de antes, mais velha, e cansada.

- Mas o senhor parece saber bastante sobre tudo isso. Porque não foi preso ou executado?

- Naquela época, nós éramos os chamados intelectuais, e quando a repressão começou pra valer, muitos decidiram ficar e morrer lutando por seus ideais. Enquanto outros fugiram com o lema de “Viver hoje, para lutar amanhã”. Eu fui um dos que partiu, mas isso já faz muito tempo agora. Hoje eu passo a maior parte do tempo contemplando, e sentindo a energia a minha volta. – O ancião parecia retomar seu ar tranqüilo, e já voltava a transparecer a sua paz interior.

- Entendo, mas ainda preciso perguntar... Se vocês sabiam do controle e de tudo, porque não fizeram nada?!

- Essa é a parte complicada, compreender os traços... Saiba que nós tentamos muitas vezes, e por muitas fomos bem sucedidos, mas o poder e a astúcia da elite controladora eram demasiadamente grandes... Nós descobrimos que para acabar com aquele sistema de escravidão era preciso trabalhar na formação dos jovens e das crianças. Pois quando crescem e aderem ao sistema de trabalho é como se assinassem um contrato de escravidão perpétuo, daí em diante o esclarecimento desses indivíduos se torna muito difícil. É como se a partir daí elas começassem a escavar um poço, e quanto mais o tempo passa, mais fundo fica o poço e mais difícil é sair dele. Entretanto, a elite, ciente disso, começou através de seus meios, a encurtar a infância e transformar as crianças e os jovens em mini-adultos, para poder ganhar controle deles o mais rápido possível. E também perpetuavam a ignorância e a alienação cada vez mais, pois para continuar a exercer o controle eles precisavam de pessoas burras que não questionassem e que comemorassem quando assinassem o contrato de escravidão ao conseguir um trabalho... Dessa forma, e além de outras, eles minavam as nossas tentativas de mudar o paradigma regente... Eu costumava dizer “Que é mais fácil mostrar a luz para aqueles que andam de cabeça erguida, do que para aqueles que olham para baixo”, e sabe, quando se desse bem fundo no poço, não se vê mais a luz, mesmo que olhe para cima...

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Uma breve história |

Sentado numa antiga estação de trem, o rapaz esperava a chuva passar para retomar seu caminho.

Enquanto admirava o trilho, que mais a frente era engolido pela grama, e a velha estrutura de metal, que o protegia da chuva, e também o piso da estação, que era feito de grandes e pesados blocos de pedra, e que mesmo com seu peso haviam rachado e se contorcido para dar espaço às raízes das fortes árvores que circundavam o local.

Enquanto isso, ele pensava em sua amada. Com seu vestido de seda, bem justo, dando mais forma e graça à sua beleza. Ele queria poder tocá-la; ter-la em suas mãos para dar a ela o mais profundo e apaixonado beijo!

Assim, com o fogo e a paixão transformar seu corpo em brasa, para se tornarem um só. Uma única mente. Um único sentimento...

Mas ele acordou de seu sonho acordado, e a chuva já havia passado. O Sol brilhava por entre algumas poucas nuvens. A grama molhada era quase um convite, mas já era tarde, o tempo passara ligeiro e sua dama o aguardava em casa. Guardou o caderno e o lápis, onde escrevera um poema para ela, levantou-se, bateu a poeira e foi-se embora cantarolando uma linda canção de amor.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Reflexões 4# |

Imagine uma vila, e ao norte dela um rio que foi represado. Um dia, os fiscais da barragem, ou qualquer pessoa, notam algumas rachaduras e outros pontos que demonstram que ela está enfraquecida e vai ceder cedo ou tarde.

Os moradores da vila são então avisados sobre a possibilidade dela ceder a qualquer momento. Entretanto, assim que os primeiros se dispuseram a reparar a represa, os outros se calaram e voltaram a viver suas vidas como se tudo estivesse resolvido.

Porem, só os primeiros dispostos não foram suficientes para consertar a barragem. Que então veio a estourar e arrasar tudo no seu caminho, incluindo a vila e os outros moradores.

Portanto, não interessa se você não quer participar, ou se você quer ficar neutro. Por que nada é neutro. O simples ato de decidir não participar de algo já é uma escolha, e vai influenciar, para o “bem” ou para o “mau”. Pois na vila, se todos tivessem participado e ajudado a reparar a barragem, ela não teria rompido e nenhuma desgraça teria acontecido.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

O Incrível da Vida |

O incrível da vida, é que nós nunca temos como ter certeza de nada. Até mesmo essa afirmação é incerta, pois se for possível ter certeza de algo, então ela também esta errada, mas isso nós nunca saberemos, e essa é só outra prova disso.

Por exemplo, suponhamos que você está dirigindo um carro numa estrada e avista uma ponte no caminho. Você ira atravessa-la, pois acredita que ela é real. Mas se não for você ira cair no rio, e você nunca ira saber se ela é ou não até atravessar. Entretanto, até mesmo se por ventura você conseguir atravessa-la, você não tem como saber se foi real, se foi um sonho ou uma miragem.

Pois da mesma forma que quando atravessou a ponte, você não tinha como saber se era real ou não, isso se aplica a tudo e a qualquer coisa. Ao segurar uma pedra, você pode estar segurando uma pedra, ou acreditar que esta segurando uma pedra, e em qualquer hipótese você não tem como saber a verdade.

Mas as nossas crenças ainda assim têm sua importância. Como quando atravessou a ponte, a sua crença de que ela existia e lhe suportaria foram fundamentais para que atravessasse. Ou quando foi comer seu almoço, e usou o talher para pegar a comida, a sua crença de que ela estava no prato foi fundamental para que comesse. Ou a minha crença de que meu teclado existe que é fundamental para continuar digitando esse texto.

Isso nos leva a outra ideia, sobre a qual já discorri, da “Verdade Real (VR) e Verdade Pessoal (VP)”. As nossas crenças são nossas VP’s, que são nossas bases para tomarmos decisões, são nossos parâmetros. Já as VR’s são aquilo que as coisas realmente são, (se é que realmente são alguma coisa, e isso não há como saber, pois se trata de uma VP), que são independentes das nossas VP’s. Por exemplo, a crença de que a ponte existe, e que te faz tentar atravessa-la, é uma VP. Agora, se na verdade não existir ponte, e você cair no rio, então a VR é que não existia ponte alguma. Mas como eu disse, você não tem como saber a VR, mas ela está lá, independente das suas VP’s.

Ao fim, o engraçado é que nunca saberemos a verdade das coisas. Pois nós só sabemos das coisas.

Natan Celidonio Fernandes.

Louveira.

19.01.2011, 00:03 AM

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Crônicas Contemporâneas 2# |

Era um outro dia, e ninguém poderia imaginar tudo o que aconteceria do momento em que o astro rei se levantasse à sua morte no poente.

Acordou sob forte chuva, tão forte que nem os animais ousavam se levantar. O sono, que parecia um gigante de tão forte, quase o mandou de volta aos sonhos, e o teria conseguido, se não fosse por Ela. Ela, que era sua amada mãe, parecia um ser de outro mundo. Acordava cedo, muitas vezes antes mesmo do raiar do Sol, pulava da cama, se arrumava e já começava a gritar pela casa com os cachorros. Saia toda contente para tratar dos bichos, e como havia bicho: tinha cachorro, que só eles já somavam seis, tinha galinha, tinha pintinho, tinha gato, até cabra tinha. Mas como se não bastasse, ainda arrumava jeito de lavar a louça, preparava a mesa e ainda fazia o café...

A guerra havia se intensificado, e estava ficando difícil conseguir passar algum tempo sem ser alvejado. Além disso, com a forte chuva que caia não foi possível sair em busca de comida. Por sorte, conheciam alguns camaradas que levaram alimentos, o que supriu suas necessidades pelo resto do dia. Mas não demorou e logo o aguaceiro passou. O que possibilitou ir até o Centro de Controle Geral. Precisavam buscar alguns itens necessários para continuar exercendo suas atividades. Para isso foram em quatro. A Rainha, pois sem ela não seria possível chegar ao destino final; seu filho, o Oriental, pois já era familiarizado com o ambiente e conhecia a sua rotina; o Homem Forte, pois em caso extremo seria necessário alguém além do Oriental para defender o grupo e garantir o cumprimento da missão; e também o Rapaz, que era o novato e precisava adquirir mais experiência...

Quando chegou a sua casa, e já faziam cerca de cinco dias que não voltava, ele descobriu que o Monstro havia comido outras duas galinhas na noite anterior, e que ainda rondava pela região. Estavam sem energia, pois as chuvas haviam danificado a rede. Enquanto Ela preparava o jantar, ele tratou de pegar sua arma, se preparou e foi até o vizinho mais próximo para saber do paradeiro do Monstro. Mas não haviam visto nada por lá. A surpresa foi quando voltou, pois o maldito estava beirando o terraço da casa. Sacou a arma, apontou e deu-lhe chumbo! Errou por pouco. A criatura era ágil e conseguiu fugir para o meio do mato, a onde se tornava inviável continuar atrás dela. Desistiu da caçada e foi jantar, Ela o estava chamando e perguntando sobre o que acontecera. Algum tempo mais tarde, enquanto balançava numa rede na varanda, apreciando o por do Sol após a chuva, com a arma no colo e os cachorros a sua volta, um parente seu veio fazer-lhe uma visita. Era seu Primo, que após colocarem a conversa em dia, decidiu juntar-se a ele contra o Monstro. Logo após se prepararem e acertarem tudo sobre a caçada, ouviram o ladrar dos cães e foram averiguar. Era quem pensavam, o Monstro. Ele estava rondando o terraço novamente, mas de onde os dois primos estavam não seria uma boa ideia confronta-lo de frente. Voltaram e decidiram se posicionar no quarto, pois de lá teriam uma visão geral do lado do terraço onde estava o maldito. Ao abrirem a janela, lá estava ele, parou alguns segundos e encarou os dois jovens de frente, olhou para eles olhos nos olhos. Ele tinha os olhos negros, e uma pelagem preta, toda desgrenhada, como seria de se esperar de uma criatura selvagem. Mas os dois rapazes também não tardaram, o Primo que estava com a arma e tinha boa mira, apoiou-a no peitoril da janela e disparou duas vezes. O primeiro disparo atingiu-o em cheio, perto da calda. Já o segundo não há como dizer, pois o Monstro já estava a certa distancia e com o breu da noite não tinha como ter certeza se o atingira. Mas uma coisa é certa, o Monstro não tornaria a voltar ali tão cedo...


Natan Celidonio Fernandes.

Louveira.

13.01.2011, 23:07 PM

Crônicas Contemporâneas |

Eles eram seis quando chegou. Um era forte, casado e tinha um filho. O outro era baixo, gordinho e risonho. Seu companheiro era um sábio esguio e ligeiro. Havia também outros dois, um senhorio de estatura mediana, de poucas palavras, mas bom sujeito, e o outro que era o mais jovem, um oriental baixinho e incrivelmente forte.

Junto deles havia uma única dama, a Rainha. Uma mulher pequena, de boa postura e mãe do mais jovem. Sábia e moderada, ela era a “espinha dorsal” deles. Sem ela nada acontecia...

Certa vez, um jovem rapaz se aproximou. Eles o acolheram como faziam com qualquer um, e o trataram como se fosse um conhecido de longa data. Foi um choque no início, mas o rapaz logo tratou de se adaptar e aos poucos foi aprendendo a conviver com eles.

Um fato curioso é que havia uma guerra sendo travada lá. Uma guerra que se estendia há muito tempo, tanto tempo que ninguém mais sabia quando ou porque haviam começado. Certo é que essa batalha era imprevisível. Quando menos se esperava, um projétil poderia passar lado a lado com seus ombros, e isso se tivesse sorte, pois na maioria dos casos os ferimentos eram nos braços ou no tronco e vez ou outra atingiam a cabeça de alguém...

O rapaz, recém agregado, tinha o hábito de escrever sobre aquilo que via e o que pensava. Como não poderia deixar de fazer, decidiu escrever sobre sua nova família e suas aventuras nesse novo mundo, chamado: Edifício Nivoloni, 905.


Natan Celidonio Fernandes.

Louveira.

13.01.2011, 00:16 AM

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

O Poeta |

A vida do poeta é a mais bela, é de longe a mais bonita, a mais serena, é a mais doce e também a mais amarga, a mais alegre e a mais boba, não a mais triste, mas beira ela. Solitária no amor, mas farta de alegria, pois os poetas são amigos dos mais confiáveis, são também os mais queridos e também mais odiados, pois tendem a falar em demasia sobre tudo que sabem, entretanto falam bem e sabem ser sofisticados quando querem.

São ousados em suas aventuras, mas seus amores sempre terminam em desventuras e poemas. Afinal, um poeta não é digno do nome se não escrever aquilo que sente e aquilo que vê, e os poetas observam bastante, ah se observam, pena é que não se lembrem muito do que vêem, pois são conhecidos por abusar das drogas que dispõe o homem.

A vida de um poeta é conturbada. Recheada de risos e lágrimas, cartas e navalhas. Mas nós sempre vivemos, choramos, rimos e escrevemos, então nosso corpo falece e vamos-nos para a onde todos desconhecem, para a onde tanto indagamos, para a onde tanto tememos ou torcemos. Mas nesse momento, quando todas as dores cessarem, quando todas as dívidas que tínhamos expirarem, quando todo o ódio, as saudades, os medos, as fantasias, os desejos e todos os sentimentos que tínhamos se acabarem, quando todas as duvidas que nós tínhamos não tiverem mais importância, quando as ultimas areias do nosso tempo caírem, quando todas as nossas riquezas forem pilhadas, saqueadas, divididas, herdadas, quando nossos cadáveres estiverem a sete palmos abaixo do solo, enfim, quando nós partirmos, os pássaros ainda irão cantar pela manhã, os ventos continuaram a soprar como sempre sopraram, as montanhas vão continuar como sempre estiveram, a grama será tão verde quanto ontem, as pessoas ainda irão fazer sexo, beber e matar umas as outras, florestas ainda serão derrubadas, animais silvestres serão caçados e mortos, suas peles ainda irão vestir madames pelo mundo, a chuva vai continuar a cair, cada vez mais ácida, e o Sol - Ah o Sol! – ele vai continuar a brilhar, apesar de tanta barbaridade...

Natan Celidonio Fernandes.

Jundiaí.

03.01.2011, 10:10 AM

La Desventura |

Já era dia e nada. Os pássaros cantavam pela manhã que nascia. As pessoas nas casas acordavam e se arrumavam para mais um dia de trabalho. Até as flores pareciam acordar e dar bom dia para o mundo. O Sol como sempre brilhava mais forte depois da chuva.
O café estava pronto, e os dois jovens estavam ansiosos para o retorno dos amigos. Um homem comum fumava seu cigarro na calçada em frente a sua casa. A grama do terreno baldio do outro lado da rua estava cintilante, era o orvalho fazendo seu trabalho. Um outro rapaz dormia largado num colchão no chão do quarto. A cidade estava acordando, mas em algum lugar dois jovens ainda pedalavam exaustos de volta para casa.
A historia era longa, mas valia a pena revive-la enquanto tomavam um belo de um café...

Eram três e quinze da madrugada quando decidiram ir buscar mais flores pela cidade. Partiram dois, em bicicletas, e deveriam voltar até cinco e meia, como previram. Dos que ficaram, eram três, um dormiu pouco depois e só foi acordar bem mais tarde. Os outros dois se mantiveram firmes em suas palavras de ficarem no aguardo dos camaradas. Mas o tempo passava e nada de noticias. Até que os dois aventureiros fizeram contato por volta das quatro e meia, estavam num morro muito distante e até aquele momento não haviam encontrado nenhuma flor, naquele tempo estava complicado encontrá-la, pois era muito cobiçada. Estavam indo para um outro local que também era famoso pelas muitas flores que cresciam ali.
Mas essa jornada levou mais tempo do que eles imaginavam. O relógio batia seis da manhã quando pararam no comercio de um posto qualquer para tomar um café. Não se demoraram por lá e logo partiram. Mais um longo caminho de volta, e os dois já quase não agüentavam pedalar. Quando se aproximaram de casa, os dois fiéis companheiros ouviram as vozes e foram recebê-los felizes, pois haviam acabado de passar o café e pretendiam ir buscar pães, presunto e queijo para tomar um belo café da manhã. Então os dois aventureiros olharam os amigos nos olhos, um deles parou e começou a gargalhar descontroladamente, enquanto o outro começou a discorrer sobre tudo que haviam passado e todos os lugares por onde foram e todas as pessoas que encontraram, enfim, toda aquela desventura por qual passaram.
Ao fim não conseguiram as flores, tomaram o café, arrumaram a casa, e foram se deitar. Com a exceção de um deles, que não estava cansado e pelo contrario estava era muito disposto. Ligou sua musica e começou a escrever esta história, que poderia bem ser uma crônica qualquer, mas é mais que isso, é um breve registro da vida de um grupo de jovens do começo da segunda década do terceiro milênio.


Natan Celidonio Fernandes.
Jundiaí.

03.01.2011.

09:10

domingo, 2 de janeiro de 2011

Bicho Homem |

Chegada é a hora de nos irmos. O Sol já vai se por, e namorar o Mar bem de pertinho por alguns minutos. Então tudo se acalma, quando o astro rei vai se deitar, toda a vida também vai. E nem mesmo os predadores se levantam. Todos deitados e serenos.

As águas do rio Grande fazem barulho quando se jogam nas quedas da cachoeira, loucas de alegria pulam para amar as pedras. Os pássaros cantavam baixo as suas canções de ninar aos filhotes. No solo, as minhocas fazem a festa do pijama no sereno.Até os peixinhos que nas águas sonham de olhos bem abertos, e também o terrível bicho homem, até ele dorme. Todos dormem quando a Lua impera.

Mas o império dura pouco, apesar da suprema majestade da Imperatriz, assim que o Sol retorna de seu amor com o Mar, tudo vai voltando de vagar. Volta a ser como era antes do Longo Sono, tudo claro e ativo. Os pássaros cantam de alegria pelo novo dia, enquanto as minhocas voltam a se alimentar no subsolo. Os peixinhos voltam a nadar, e o homem a matar. Mas as águas... Há, as águas nunca param de pular nas pedras. Pois elas estão loucas, estão loucas de amor pelas pedras, que nunca as abandona, estão sempre lá, independente do que aconteça.E também acordou o homem. Que em seu ódio do Sol por ter-lhe interrompido os sonhos, mandou que se fizesse um tampão para acabar com o a luz do Sol, pois assim poderiam sonhar todos os sonhos.

O problema é que o homem, em seu ego cego acabou que não previu tudo, e assim que terminaram o tampão eles caíram todos no sono, pois o trabalho que tiveram para fazê-lo foi desumano. Mas o Sol quando veio foi bloqueado pelo tampão, e desde então nenhum raio de luz percorreu lugar algum desta terra, e nenhuma criatura andou novamente depois de dormir. Foi o sono final, aquele em que ninguém acordou. Nem os homens, e esse foi seu fim. Mortos pelo próprio ego. Cegos por ele em sua ânsia de conseguir o sonho eterno.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

A vida é |

A vida é engraçada. Agora que não tenho mais preocupações escolares, não tenho mais esses chatos deveres, tudo é tão calmo, tão sereno. Mas ainda assim não estou bem, parece que me falta algo. Como se não estivesse completo.

A vida é terrivelmente engraçada. Agora que não tenho mais que me preocupar com nada, sou assombrado por preocupações com algo que não sei descrever. Coisa chata é essa.

A vida é algo complexo. Temos problemas que não sabemos bem o que são. Temos problemas que até sabemos o que são, mas não sabemos transcreve-los em nada. E por vezes também não sabemos resolve-los.

Eis então um problema...

sábado, 18 de dezembro de 2010

Não compreendo |

As pessoas dão valor para coisas que não consigo entender...

Choram e se machucam por uma coisa estranha
Cometem os mesmo erros, de novo e de novo e de novo...
Falam de algo mágico e misterioso
Que não conseguem se libertar dele
É como um imã que as atrai
Buscam incessantemente por ele
Mesmo que nunca consigam encontrar
Elas se iludem repetidamente
Na certeza de ter-lo encontrado
E ainda que por vezes pareçam felizes e abobados
As pessoas continuam se machucando...

Não sei...
Mas desisti já faz algum tempo de tentar compreender aquilo que eles chamam de “Amor”...

É |

Depois que tudo termina você percebe que tudo aquilo pelo que tinha grande estima já não tem muita importancia. As pessoas ficam, os lugares mudam, as memorias se apagam, os objetos se perdem, e a importancia se esvai. A única coisa que segue é você; sempre em frente; sempre sozinho.

No final, só resta o presente. Pois é apenas o que existe. Tudo que se tem é aquilo que se vive nele. A alegria que sentiu ao conquistar algo; a tristeza da derrota; a certeza da ação; a dúvida da escolha; o medo do que não se conhece; enfim, tudo aquilo que se faz e que se fez, é apenas isso que conta. Todo o resto passa.

Então você conclui que o que realmente importa é fazer algo. Independente do resultado, pois o importante é ter feito. Então você pode gritar de alegria por ter conseguido, ou chorar por não ter. Mas ao menos você sentiu que estava vivo. Sentiu que a vida teve algum valor, que ela não foi vazia.

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Palavras bonitas geram lagrimas
Que escorrem e secam
E assim como elas
Não duram mais de uma noite.